A devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é muito antiga entre as ademais devoções Marianas existentes na Ilha do Arcanjo São Miguel, neste Arquipélago dos Açores.
Reza uma tradição oral ancestral muito antiga, passada de geração em geração na nossa freguesia e ilha de São Miguel, que por volta do ano de 1573, navegava nos mares que banham a costa da Candelária, uma embarcação estrangeira, da qual se desconhece a sua origem, mas que se encontrava em risco de naufrágio.
Na tragédia que se vivia, a nau que navegava por mares nunca ou quase nunca dantes navegados, cheios de mitos e de robustas figuras, que obedecendo a Neptuno, espalhavam o terror por entre marinheiros, enchendo as suas almas de horror, pois viam as suas vidas ameaçadas pelas ondas gigantescas, que galgavam a caravela, e pelos fortes ventos que Éolo soltava e que sopravam a própria fúria de norte e sul, nascente e poente.
Foi neste cenário dantesco que numa só voz se entoou um altíssimo hino, uma excelsa oração que atravessou o céu carregado de nuvens negras repletas de aguaceiros de infindável dor e penetrou o mais alto dos Céus e como que um suave perfume tocou o mais imaculado dos corações que alguma vez Deus havia criado. Bastou esta dor para que em oração e pedido se tornasse e logo a promessa saiu dos lábios dos marinheiros de um pequeno templo erguer em honra da Virgem do Perpétuo Socorro se esta lhes salvasse a vida e, para isso, uma bala de canhão atirariam da nau para terra e onde esta caísse, aí sim dariam cumprimento aos seus votos.
O perfume que tocou o mais maternal dos corações foi o suficiente para que se rasgassem as nuvens e por entre elas com a luz da esperança aparecer a Mãe de Deus sob o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, com os anjos aos Seus pés, que amarravam os ventos, e o Seu braço estendido a dominar Neptuno que se desfez em espuma das ondas do mar, que de irado se transformou num espelho de calmaria, onde se refletia a bonança, a vida e a luz. A Mulher que antes nos aparece com a lua aos pés, agora aparece-nos com o sol no seu véu.
E a promessa foi cumprida...
O nobre templo foi construído por volta de 1575 pelos meus antepassados Diogo Gonçalves e sua esposa Branca Gonçalves, talvez numa terra doada por Beatriz Rodrigues viúva de Diogo Vaz Carreiro em 1573. Este último casal, de facto, fez a doação de um terreno e como diz o Padre António José Lopes da Luz este ficava junto à Senhora do Socorro, no entanto, à exceção do terreno onde está construída a ermida não existe mais nenhum que seja posse da Ermida de Nossa Senhora do Socorro ou da sua antiga Confraria. Por isso, deduzo a tal doação de Beatriz Rodrigues seja o próprio terreno onde se encontra construído o pequeno templo.
Assim se acaba esta Santa oração, quem a ouvir, que a aprenda e a guarde em seu coração...
Luís Filipe Pavão
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